TRÊS POEMAS ANTROPOFÁGICOS

KITCH-NIETZSCHE

MEU DESPREZO É UMA COMPAIXÃO
APAIXONADA;
MINHA VONTADE, NA VERDADE,
É ORGULHO
E MINHA JUSTIÇA, VINGANÇA:
UM MERGULHO DESESPERADO

NA ESPERANÇA DE UM DIA VIVER SEM PIEDADE.
E SÓ CONFIAR NOS EFEITOS SEM QUALIDADE,
E SER CÍNICO CONTRA TODA HIPOCRISIA.

COMIDA
Como como como,
Como vivo, como falo,
Pois comunicar é fazer comum.
Como como como, como qualquer um.
Como consumidor, sumo sem sobra.
E como obreiro, como a obra do senhor
Que como cobra, cobra a maçã de cada dia- mais valia que me dobra.
Mas, como mão-de-obra,
Não me acomodo: acumulo força produtiva.
Como como incomodo
Pois como como quem grita:
Que mude o modo,
Que mude o modo,
Que mude o modo de vida.
Como como como,
Como como irmão,
Como como penso,
Como comunhão.
Mas como um comunista só não faz revolução,
 coma como comer:
Coma comum ou como bem entender,
Sou apenas mais um a comer.
Como consumidor, sumo sem nome.
Como fome uniforme de modular fórmulas e formular modos.

Capitalismo Selvagem

Como todos os produtos da sociedade capitalista, eu sou uma mercadoria. E como tal, em minha moral, há dois valores encravados: o de me sentir útil-necessário e o de me trocar-medir, em que peso prestígio e desprezo, administrando preços e valores menores. Politicamente descartáveis. Eu sou uma mercadoria de valores opostos em guerra marginalisticamente escondida. Entre meu consumo e minha produção, eu sou o marketing da humanidade perdida. Em minhas trocas, é capital diminuir os custos e aumentar o lucro, acumular, e, no final das contas, achar e estornar o valor da diferença.


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