A partir daí há dois sentidos possíveis:
Também Carlos Castanheda (1), antropólogo convertido ao sistema de 'feitiçaria tolteca', iniciou-se nessa tradição através da utilização das 'plantas de poder', principalmente a Datura (a 'Erva do Diabo') e o Peyote (o 'mescalito'). A droga aqui é utilizada para romper com a descrição ordinária da realidade, com a percepção cotidiana de mundo, como uma forma de se sentir presente em outros universos dimensionais. A droga alucina
e cura, equilibra e enloquece, maravilha e vicia. É um paradoxo,
um dispositivo de funções aparentemente contrárias.
Entre os autores brasileiros que pensaram a questão das drogas dentro
de uma perspectiva foucaultiana dos modos de sujeição, Edson
Passetti (2) é talvez quem melhor coloque o papel central deste
dispositivo na sociedade contemporânea.
Porém, o certo é que, a partir do advento 'Terence McKenna', há todo um movimento em curso sobre essa história de Entheogênesis. Atualmente, na internet, tanto encontramos páginas dos grupos religiosos ligados a tradições xamânicas com a Ayahuasca quanto de psiconautas e estudiosos. Em um rápido levantamento, além de numerosos sites comerciais, descobrimentos duas revistas especializadas (Entheogen.com e The Resonance Project (TRP)), três bibliotecas virtuais (The Lycaeum, Religion and Psychoactive Sacraments e The Vaults of Erowid), duas ONGs com conotações políticas (The Drug Reform Coordination Network e The Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (MAPS) e uma comunidade virtual (The Island Web). Hoje é mais fácil encontrar trabalhos espirituais com a utilização da Jurema (6) na Europa que nas caatingas do nordeste brasileiro. Um prova disto é a reconstituição da fórmula secreta da beberagem dos índios nordestinos por uma ONG holandesa, a Friends of the Forest, que trabalha com recuperação de viciados e crescimento pessoal através de entheógenos. Vivemos um processo que a consciência étnica é reimportada. |
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(1) Para um levantamento completo das principais páginas sobre Castanheda, clique aqui.
(2) PASSETTI, E. Das 'Fumaries' ao Narcotráfico. São Paulo, EDUC, 1991.
(3) MCKENNA, T. - 'Alucinações Reais', 'Alimento dos Deuses' e 'Retorno à cultura arcaica' Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1993, 1995 e 1996. Em inglês, há ainda os livros em parceria com seu irmão Dennis McKenna, The Invisible Landscape e Psilocybin: The Magic Mushroom Grower's Guide.
(4) Segundo McKenna, 'o ciberespaço é a hipermente de Gaia'; não é 'uma mecanosfera deleuziana', mas uma inteligência planetária anterior às redes maquínicas, semelhante ao Cibionta nos textos mais recentes do biólogo Leon de Rosnay.
(5) MCKENNA, T. 'Caos, Criatividade e o retorno do Sagrado - triálogos nas fronteiras do Ocidente' (em conjunto com Ralph Abraham e Rupert Sheldrake) São Paulo: Cultrix/Pensamento, 1994.
(6) Há também, sobre o uso contemporâneo da planta e sua tradição, um texto que editamos: A JUREMA NO "REGIME DE ÍNDIO": O CASO ATIKUM, de Rodrigo de Azeredo Grünewald. A bibliografia sobre Jurema é excelente.
(7) DMT World's.