Comida e Audiovisual IV
A escala musical séptupla e o espectro cromático da luz no arco-íris entendidos como um paradigma das freqüências de rede foi 'idealizado' em muitas épocas pelo ocidente. Sua origem é pitagórica, mas não é um modelo 'universal' como pretende. Assim, como 'os quatro elementos', ele assume diversas formas no Ocidente, mas desaparece em outras culturas (3). É como vimos: no Xireé, a ordem sequencial de apresentação durante o ritual é quando melhor se observa como os Orixás formam as freqüências de rede do Candomblé enquanto linguagem simbólica: cada entidade é um feixe de referentes simbólicos, cada orixá tem sua cor, suas músicas, sua dança e, ao mesmo tempo, corresponde a um tipo de comportamento humano específico e a uma faixa vibratória da Natureza. É a virtualização das identidades simbólicas-genéticas em identidades simbólicas- culturais. É o sistema de classificação das referências alimentares e audiovisuais dos orixás (o Ifá) transformado em sistema de classificação de referências psicológicas da personalidade. Os orixás tornaram-se progressivamente 'máscaras', tipos de pessoas e/ou aspectos psciológicos da personalidade.
OS ORIXÁS E OS SETE PLANETAS
Mas há diferentes níveis de aplicação desses critérios. Em alguns centros que tanto trabalham com Umbanda quanto com Candomblé ('Nação'), costuma-se dizer que "Orixá não incorpora, irradia". Porém, ao se tratar do Orixá Ibeji e das 'crianças' da Umbanda a diferença é apenas conceitual. Aliás, muitas o 'estado de erê' é mais um estágio do transe do que uma freqüência específica. O mesmo também pode ser dito sobre os pretos-velhos e os orixás mais idosos Nanã, Oxaguiã, Omulú. Essas experiências de transe nos remetem mais aos arquétipos juguianos da 'criança interior' e do 'velho sábio' (elementos de dramatização dos diferentes momentos da vida) do que propriamente de diferentes combinações dos aspectos psicológicos da personalidade. Há também várias interpretações e analogias possíveis entre a linguagem astrológica e do Ifá, como a que compara o orixá de cabeça com o signo solar e adjunto como ascendente, ou aspecto secundário da personalidade. Outros preferem ler os orixás como planetas e os aspectos como relacionamentos míticos entre eles. Interessa-nos sobretudo a noção de cada indíviduo é uma federação de Eu's ou entidades - 'A Coroa' - vista como uma mandala astrológica (4) ou mapa de desenvolvimento cognitivo - uma vez que esta mesma idéia também vai estar presente no esoterismo contemporâneo, na literatura (Fernando Pessoa) e até na ciberpsiquiatria da Internet. (5) Resta aqui concluir que as práticas audiovisuais e alimentares se organizam em torno deste eixo simbólico, fazendo com que, em cada indivíduo, diversas combinações de seus aspectos se combinem e se diferenciem. Assim, A Anatomia do Ruído achou aqui um ciclo ou anel de recorrência importante, nosso principal dispositivo de condicionamento hipnótico: pão & circo. Ou Comida e Audiovisual. |
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(1) Escrevemos e editamos alguns textos não-acadêmicos sobre Florais e sobre Tarô, que, indiretamente, dizem respeito à idéia de freqüências de rede. Em 'O Tarô como Mapa Cognitivo' discutimos as tentativas ocultistas de estabelecer um único sistema de correspondências simbólicas entre o Tarô, a Cabala e a Astrologia, retornando, assim, a uma linguagem imaginética universal. No ensaio poético 'As Flores do Bem' associamos as essências florais do Dr. Bach à experiência subjetiva das couraças e dos sete chacras. Já em nossa edição dos 'Florais da Floresta', das pesquisadoras Isabem Facchini Barsé e Maria Alice Campos Freire, utiliza-se o sistema de classificação dos orixás.
(2) A Umbanda é um sincretismo
brasileiro da religião dos orixás africanos (o candomblé)
com o espiritistmo kardecista europeu. Para mais informações,
visite os principais sites da Umbanda no Brasil: a) Luz
e Fé
b) Umbanda
Esotérica do Brasil c) Casa
de Obaluaiê d) Templo
Beneficiente Fonte dos Caboclos.
(3) Aliás, além do modelo pitagórico séptuplo existem sistemas simbólicos mais sofisticados (como o I Ching, com cinco elementos e oito triagramas) e mais rústicos (como o próprio sistema do Ifá que segue a ordem cromática básica Vermelho/Preto x Branco).
(4) STEINBRECHER, EDWIN C. A Meditação dos Guias Interiores. São Paulo: Ed. Siciliano, 1990. Obra ainda pouco conhecida pelos brasileiros, mas que já é considerado um clássico do esoterismo da Nova Era no exterior. Explica a terapia elaborada a partir da combinação das cartas de Tarô com a técnica da imaginação criativa segundo os aspectos arquetípicos (quadraturas, oposições, conjunções) de cada mapa natal.
(5) TURKLE, S. O Segundo Eu - os computadores e o espírito humano. Lisboa: Editorial Presença, 1989.