Comida e Audiovisual IV

  • FREQÜÊNCIAS EM REDE
Hoje as comidas e plantas não são mais classificadas segundo seus lugares no espaço/tempo mítico, mas sim em relação as faixas vibratórias de um corpo universalizado (1). A passagem do sistema múltiplo, selvagem e territorial dos Orixás no Candomblé para as sete linhas da Umbanda (2) segue um caminho de enquadramento e síntese das freqüências no modelo de correspondência do Ocidente, como no caso dos sete dias da semana, em detrimento das datas locais e da  territorialidade. 


Quadro Resumido de referências Culinárias por Entidade
DIA DA SEMANA 
ORIXÁ 
SACRIFÍCIO
OFERENDAS
Segunda-Feira
Exú

Omulú
 Nanã 
Frangos pretos, galinhas d’angola e bodes pretos
Bode, porco e galo
Cabra e galinha 
Farofa de Dendê, mel e cachaça
Aberém (bolo de milho ou arroz, Doburú (pipoca sem sal) e Latipa (folhas de mostarda cozidas)
Anderê (vatapá de feijão fradinho) e também as comidas de Omulú, Iroko e Oxumaré
Terça-Feira
Ogum
Oxumaré
Iroko
Galo
Bode, galo ou galinha
Galo ou carneiro
Inhame assado, acarajé e feijoada com cerveja
Feijão com milho, Gururu, camarão com azeite e cebola
 Ajabó (quiabos picados com mel e milho branco com feijão
Quarta-Feira
Xangô
Iansã 
Galo ou carneiro
Cabra e galinha 
Amalá (caruru de quiabos), acarajé comprido e farofa de mandioca com feijão e arroz
Acarajé e Amalá com 14 quiabos
Quinta-Feira
Oxossi
Ossaim
Logunedé 
Bode, porco e galo
Bode e galo
Odá (bode castrado)
Feijão preto torrado, axoxó e inhame
Fumo, mel e farofa
Omolocum (pasta de feijão, camarão, ovos, cebola com dendê. Pratos de Oxum e Oxossi
Sexta-Feira
Oxalá
Cabra, pombos, galinhas brancas 
Açaça de arroz com mel, ebó de milho branco
Sábado
Yemanjá
Oxum
Patas, cabras e galinhas brancas
Cabra, galinhas e patas 
Ebó de milho branco, arroz, mel e angú
Omolocum, xinxins de galinhas, Adum e Ipeté.
Domingo
Ibeji 
Frangos de leite 
Carurú, vapatá, doces e balas

A escala musical séptupla e o espectro cromático da luz no arco-íris entendidos como um paradigma das freqüências de rede foi 'idealizado' em muitas épocas pelo ocidente. Sua origem é pitagórica, mas não é um modelo 'universal' como pretende. Assim, como 'os quatro elementos', ele assume diversas formas no Ocidente, mas desaparece em outras culturas (3).

É como vimos: no Xireé, a ordem sequencial de apresentação durante o ritual é quando melhor se observa como os Orixás formam as freqüências de rede do Candomblé enquanto linguagem simbólica: cada entidade é um feixe de referentes simbólicos, cada orixá tem sua cor, suas músicas, sua dança e, ao mesmo tempo, corresponde a um tipo de comportamento humano específico e a uma faixa vibratória da Natureza. 

É a virtualização das identidades simbólicas-genéticas em identidades simbólicas- culturais. É o sistema de classificação das referências alimentares e audiovisuais dos orixás (o Ifá) transformado em sistema de classificação de referências psicológicas da personalidade. Os orixás tornaram-se progressivamente 'máscaras', tipos de pessoas e/ou aspectos psciológicos da personalidade.


OS ORIXÁS E OS SETE PLANETAS
OXALÁ
SOL
ESPIRITUALIDADE
YEMANJÁ
LUA
SENSIBILIDADE
OMULÚ
SATURNO
SEVERIDADE/LIMITES
XANGÔ
JUPITER
GENEROSIDADE
OGUM
MARTE
AGRESSIVIDADE
OXUM
VÊNUS
SEXUALIDADE
EXÚ
MERCÚRIO
COMUNICAÇÃO/TRANSPORTE

Mas há diferentes níveis de aplicação desses critérios. Em alguns centros que tanto trabalham com Umbanda quanto com Candomblé ('Nação'), costuma-se dizer que "Orixá não incorpora, irradia". Porém, ao se tratar do Orixá Ibeji e das 'crianças' da Umbanda a diferença é apenas conceitual. Aliás, muitas o 'estado de erê' é mais um estágio do transe do que uma freqüência específica. O mesmo também pode ser dito sobre os pretos-velhos e os orixás mais idosos Nanã, Oxaguiã, Omulú. Essas experiências de transe nos remetem mais aos arquétipos juguianos da 'criança interior' e do 'velho sábio' (elementos de dramatização dos diferentes momentos da vida) do que propriamente de diferentes combinações dos aspectos psicológicos da personalidade. Há também várias interpretações e analogias possíveis entre a linguagem astrológica e do Ifá, como a que compara o orixá de cabeça com o signo solar e adjunto como ascendente, ou aspecto secundário da personalidade. Outros preferem ler os orixás como planetas e os aspectos como relacionamentos míticos entre eles. 

Interessa-nos sobretudo a noção de cada indíviduo é uma federação de Eu's ou entidades - 'A Coroa' - vista como uma mandala astrológica (4) ou mapa de desenvolvimento cognitivo - uma vez que esta mesma idéia também vai estar presente no esoterismo contemporâneo, na literatura (Fernando Pessoa) e até na ciberpsiquiatria da Internet. (5)

Resta aqui concluir que as práticas audiovisuais e alimentares se organizam em torno deste eixo simbólico, fazendo com que, em cada indivíduo, diversas combinações de seus aspectos se combinem e se diferenciem. Assim, A Anatomia do Ruído achou aqui um ciclo ou anel de recorrência importante, nosso principal dispositivo de condicionamento hipnótico: pão & circo. Ou Comida e Audiovisual.


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NOTAS

(1) Escrevemos e editamos alguns textos não-acadêmicos sobre Florais e sobre Tarô, que, indiretamente, dizem respeito à idéia de freqüências de rede. Em 'O Tarô como Mapa Cognitivo' discutimos as tentativas ocultistas de estabelecer um único sistema de correspondências simbólicas entre o Tarô, a Cabala e a Astrologia, retornando, assim, a uma linguagem imaginética universal. No ensaio poético 'As Flores do Bem' associamos as essências florais do Dr. Bach à experiência subjetiva das couraças e dos sete chacras. Já em nossa edição dos 'Florais da Floresta', das pesquisadoras Isabem Facchini Barsé e Maria Alice Campos Freire, utiliza-se o sistema de classificação dos orixás.

(2) A Umbanda é um sincretismo brasileiro da religião dos orixás africanos (o candomblé) com o espiritistmo kardecista europeu. Para mais informações, visite os principais sites da Umbanda no Brasil: a)  Luz e Fé
b) Umbanda Esotérica do Brasil c) Casa de Obaluaiê d) Templo Beneficiente Fonte dos Caboclos.

(3) Aliás, além do modelo pitagórico séptuplo existem sistemas simbólicos mais sofisticados (como o I Ching, com cinco elementos e oito triagramas) e mais rústicos (como o próprio sistema do Ifá que segue a ordem cromática básica Vermelho/Preto x Branco).

(4) STEINBRECHER, EDWIN C. A Meditação dos Guias Interiores. São Paulo: Ed. Siciliano, 1990. Obra ainda pouco conhecida pelos brasileiros, mas que já é considerado um clássico do esoterismo da Nova Era no exterior. Explica a terapia elaborada a partir da combinação das cartas de Tarô com a técnica da imaginação criativa segundo os aspectos arquetípicos (quadraturas, oposições, conjunções) de cada mapa natal.

(5) TURKLE, S. O Segundo Eu - os computadores e o espírito humano. Lisboa: Editorial Presença, 1989.